o que vejo e sinto

novembro 23, 2010

PAISAGENS PARA OUVIR




Fonte: Divulgação 

A nova  temporada do Vocal  Mandríalís ( Porto Alegre –RS Brasil) – “ Paisagens” ( que completou  20 anos  de existência, neste ano de  2010, ),  nos brinda com  paisagens para  ouvir e sentir.
A abertura, já anuncia  como será o espetáculo  ;  Ave Maria Guarani ( Jorge Praiss),  é de um primor  que  transcende,  e coloca sobre aviso almas desavisadas que as paisagens  que iremos   ouvir, são  todas profundas e atemporais e de lugares que já estivemos e que  talvez desejamos estar novamente, ou quem sabe conhecer.

 As paisagens  que Teixeirinha, Mario Barbara,  Vitor Ramil, Raul Elwanger,  Giba Giba,     André Brandalise, e Marcelo Delacroix, Kleiton e Kledir  e outros tão importantes ,  cantaram        o Mandralis nos leva de carona na garupa do tempo.

  Ao  ouvir o grupo , é inevitável  não se reportar as nossas memórias e nossas paisagens  internas.   As musicas escolhidas a dedo ( de autores  gaúchos ) para o espetáculo, mantém  uma harmonia convidativa para um  cantarolar e também para  um  sentir quase que intimista; Emocionar-se  é pouco para tantas paisagens.
 Há um apuro técnico,  um cuidado cênico que sinaliza a maturidade do grupo, isto  naturalmente  reforça que   Paisagens é  uma celebração, um convite  de todos os credos, religiões cor e raças.  Assim como são as paisagens.
As paisagens ,  são imagens que  encontramos ao andar, mas apenas  tem sentido quando  registramos, e isto somente é possível quando sentimos; Alguns  espetáculos nos fazem apenas  ver,  mas o Mandríalís  nos faz  ver e sentir. Um espetáculo enxuto, que a prioridade é a voz, que  por momentos se torna tão  grandiosa que o palco e os adereços cênicos  ficam  diminutos .   As vozes  chegam a até a gente de maneira  profunda  com um misto de inquietude e alegria.  Reforçado por vezes  pelo  teclado, contrabaixo e  a flauta doce;     Um repertório que canta nossos   autores gaúchos,   que com a voz do grupo se torna atemporal. Mandríalis  confirma,  quando  cantamos nossa aldeia, cantamos para o mundo e   somos  universais. 
Na minha  intromissão,  eu já anseio que  o grupo se mostre mais com seu corpo,  pois senti que o corpo  do grupo parece  esperar uma oportunidade  para se expressar  mais,  e usar mais  este corpo.   Talvez seja um momento do grupo e que   sua proposta de  trabalhar mais com a voz do que o corpo.  Mas o que vi neste espetáculo foi  um corpo em prontidão   para   grandes  caminhadas para continuar nos  levando para  outras  paisagens;   De parabéns o  grupo,  direção ,  regência e todo o apoio técnico que  envolve o espetáculo.  Obrigado, ao Mandríalís  por este  tour pelas minhas também  paisagens.  



junho 14, 2010

Robert Baksa

maio 04, 2009

Sombras raptadas

Adriana Donato , em exposição de 17 de abril, até o dia 30 de maio de 2009, La Photo,Porto Alegre-RS.


Adriana Donato , em exposição de 17 de abril, até o dia 30 de maio de 2009, La Photo,Porto Alegre-RS.


Adriana Donato , em exposição de 17 de abril, até o dia 30 de maio de 2009, La Photo,Porto Alegre-RS.

Formas sombriáticas ( não sei existe este termo ); Mas este é termo que elejo para descrever as fotos de Adriana Donato , em exposição de 17 de abril, de segunda a sexta das 11h às 19h e aos sábados das 11h às 15h, até o dia 30 de maio. La Photo (Travessa da Paz, 44 – Fone (51) 3221-6730), Porto Alegre-RS, com a Curadoria de Dione Vieira Veiga. De acordo com com própria artista este trabalho “é conseqüência de um estudo de dois anos sobre a influência das sombras na arte. Após um primeiro ensaio, que resultou na exposição Sombras sobre o corpo, surgiu a idéia de estender esta pesquisa ao meio urbano, partindo do Mito da Caverna, de Platão, passando pelo mito do Desenho de Sombra, até os estudos de Leonardo Da Vinci e o inicio da fotografia. O Mito da Caverna, narrado por Platão no livro VII de A Republica...” http://revisadoseoutros.blogspot.com/2009/04/as-sombras-do-mundo.html;
Como toda a sombra, o quase todas, são efêmeras, as sombras de Adriana se impõem de maneira quase que eterna. Na verdade a Adriana eterniza o efêmero com suas fotos; Ao olhar e sentir suas imagens se percebe uma convivência natural entre o que existe e o que passa existir com olhar. A imagem é a sombra em si. Um belo exercício para ver o que não vemos no cotidiano. Para olhares apressados, podem parecer apenas sombras intrometidas que surgiram em momentos inoportunos.
Mas as sombras, que existem em todos os recantos, que haja luz, também falam, expressam , denunciam e instigam o olhar para o claro e escuro, o que na verdade é feito o nosso imaginário. Somos também sombras de vivências e expectativas; Penso que nossas dores, e confortos , a beleza e feiúra da cidade e do existir é quando se alteram as sombras. Depende como estamos, de nosso ponto de vista , de nosso momento emocional ; as sombras também são belas, e belas parceiras para se estar junto. As sombras também são poesias visuais, basta que se traduza; O que Adriana fez com sensibilidade impar.
Penso, até em uma mitologia possível de devaneios e associação livre que a sombra poderia ser uma deusa antagônica a deusa Luz. A deusa Sombra esta sempre onde a Luz esta, ( vice e versa) se amam e se odeiam. Elas não sabem, mas na verdade são Deusas Siamesas, que não vivem independentes. Onde estiver à sombra deve haver luz, assim sendo, elas habitam todos os recantos do universo, mas apenas juntas.
Adriana raptou as sombras da cidade; a cidade sempre terá sombras; Mas depois de vê-las e admira-las não tem como não sentir-se um pouco cúmplice deste rapto.

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agosto 03, 2008

Medos e Vida




Fotos Dione Veiga, 2008 - Exposição Casa Corpo Porto Alegre/RS

Viver implica em temer também, ao não termos estes temores nossa preservação é sucumbida, há que ter medos, para que possamos avaliar e contornar rumos da existência. Mas quando o medo é paralizante e que no deixa improdutivo nossa instinto de preservação também sucumbi e por fim morremos.
Traduzir este medo, por vezes é tão delicado e complexo que corremos o risco de subjetivar a ponto do medo ser apenas um " ponto" um pigmento. Mas a arte no salva.
A obra de Klinger Carvalho ( http://www.culturapara.art.br/artesplasticas/klingercarvalho/index.htm. ) Arquitetura do medo, também chamada de : Variação em Vermelho - O Viajante Percorre Territórios Incógnitos, vista na expo, Casa e Corpo em Porto Alegre RS, 2008, traz uma alegoria e um culto a este nosso imaginário e real sentimento: o medo. Todos os corpos ( em todas as culturas, ) que pulsa vida, percorre nele a mesma cor quente do sangue. Klinger, traz a cor e objetos ( muitos objetos, móveis, toalhas , barco, lampada etc.. ) arranjados de maneira que possam ser vistos, ou não vistos , sentidos ou não de acordo como me permito circular pela obra; a todo novo olhar um nova obra salta em nós. Alguns objetos se tornam invisíveis, passam a ser visiveis depois de rever e sentir. E outros permacem invisíves sem o registro consciente da existencia concreta. Os objetos incorporados a obra, me fazem pensar sobre os fragmentos imaginários da existencia e que desencadeia o medo. A luz, por sua vez pode ser redentora, salvar da escuridão e clarear, e desfazer os fantasmas que habitam em nós. Mas não ha luz sempre. Ha recantos escuros; onde a cor não existe. As grades, que envolvem a obra, sugerem quase um santuário, que protege e que isola estas cores, estes objetos, este corpo; Estas mesmas grades pontiagudas protegem mas podem ferir, e fazer brotar o vermelho do corpo que tentar invadir. Assim, me parece é o viver contemporâneo. Temos medos de quase tudo. Mas os medos mais terriveis são aqueles que habitam dentro de nós, são nossos imaginários que vagam, que podem ou não sair. A obra de Klinger, inevitavelmente instiga a um pensar sobre nossos medos; assim como levemente apimenta riscos erotizados da cor quente e objetos que podem existir em uma alcova assim como em uma cela de mosteiro. Ambos os lugares podem habitar gente, e onde há gente, existe medo, desejo, paixão e vida. A obra de Klinger, acima de tudo é uma apologia a vida com suas cores e temores.

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maio 11, 2008

Catarina, a esfinge de Ricardo Zimmer

Fonte http://www.megaculturalfilms.com/producoes.html

Desde do lançamento do Livro do Cineasta e também escritor *Ricardo Zimmer ( http://www.megaculturalfilms.com/zimmer.html) que foi em 2001, há uma ansiosa espera, pelo filme baseado na Obra : “ Catarina – o último crepúsculo “, que o próprio também é roteirista e diretor, Que já esta em fase de produção. (http://www.megaculturalfilms.com/producoes.html) ; O livro inevitavelmente é um filme. Há que se dizer que os escritos de Ricardo Zimmer, são cinematográficos sempre. Há cenas, cortes, planos , que com seu talento facilitam e estimulam grandemente nosso imaginário. Conheço a produção textual de Zimmer, e percebo em todas, esta maestria. Desde a criação para o teatro quanto ao cinema. Um sensibilidade impar. Uma capacidade de raptar cenas improváveis e torná-las refém para sempre na tela grande e depois em nossa memória. Isto é raro, e poucos cineastas contemporâneos conseguem. No livro, cenas e personagens quase saltam das páginas em um desejo transloucados por existência própria; Ao filme, espera-se que as cenas e personagens nos raptem para dentro delas. De Zimmer, mais o elenco, que esta estupendo, nos resta o deleite de ver o rosto de Catarina e todas as cenas já criadas além do livro. Sabemos que livro é livro, cinema é cinema. Mas o fato de termos o mesmo talento para ambas, deixa uma expectativa maior ainda. Com o livro Zimmer nos sugere, agora com seu filme ele nos conduz. Sendo assim, esperar por Catarina é instigante pois a obra em si é de um conteúdo profundo, pois fala da vida, conflitos e desejo de findar assim como a missão de Catarina como facilitadora da finitude.
Talvez isto, seja mais inquietante em Catarina, ela facilita que o outro deixe de existir. Não há culpa; nem para o facilitado e nem para o facilitador. É como um pacto silencioso para aplacar a dor. É como um ciclo natural, um arranjo de desejos de todo ser humano, que podem ficar submersos a vida toda.
Há verdades na atitude de Catarina. Pois sempre somos facilitadores para um morrer ou existir em todas as nossas relações. Recebemos pedidos para facilitar, interromper intervir em cenas, em roteiros em falas, isto é própria existência com sua simplicidade estrangulada por nós depois de civilizados.
Catarina, fala ao mesmo tempo de uma melancolia, de dores e perdas que gerações e gerações trazem, já pelo própria historia desta família germânica que vem para o sul do Brasil, e deixa lá , no velho mundo parte suas. Estas partes nunca viveram aqui, pois a memória ficou aprisionada lá. Gerações que vieram posteriormente como a própria Catarina, incorporaram este banzo-germânico. Como forma de reintegrar-se, voltar as origens.
O desejo de morrer vem quando as almas humanas de tão sofridas se auto profanam; mas para acontecer e talvez para haver menos culpa, Catarina vem e facilita o processo de inexistir.
Na época em que Zimmer, iniciava o roteiro ele me solicitou que fizesse um perfil, um estudo psicológico de Catarina. Investimos horas e horas de entrevistas e leituras para chegar ao estudo do psiquismo de Catarina; houve conclusões clinicas , hipóteses , diagnósticos e prognósticos, mas ficamos sem decifrar alguns enigmas de Catarina. Catarina, deixava-se visitar em seu universo, mas haviam segredos, confessos e não confessos que fizeram dela um anjo facilitador, ou um monstro também facilitador. Isto sem dúvida, é a genialidade de Zimmer que deixou em aberto quem é Catarina. Esta forma de narrar e construir a personagem e seu universo interno, é de um riqueza impagável que só a grande tela vai também nos facilitar, para morrer de amor , compaixão ou desprezo por Catarina.
O que Catarina, propõem , se que é propõem; é uma transgressão ao direito de continuar ou não. Nela havia por momentos a identificação com a dor do outro, assim também como a onipotência, um complexo de deus com poder de cessar a vida do outro.
Esta relação com direito de intervir na vida e na morte, é algo que desassossega qualquer sociedade, e instiga reflexões profundas sobre estes direito. Pois desfila nestas situações questões éticas, morais e religiosas. Pois Catarina, transgride de maneira moral, ética e religiosa; Desconsiderando esta trindade que sustenta a continuidade da vida e reprime impulsos menos racionais. Que de certa forma, tem sua serventia em sociedade ditas humanas, digamos que seja um regulador. Há sim, intervenções institucionais que fazem a mesma coisa que Catarina, mas não são passiveis de julgamento ou questionamentos.
Catarina, é individual, é uma pessoa que por momentos facilita a finitude. Assim como dentro de nós habitam anjos, também habitam Catarinas. O filme de Zimmer, vem para talvez inquietar, ou quem sabe acalantar almas em culpa, por vezes de ter deixado de existir ou ter facilitado a própria inexistência . Há que também se auto decifrar usando as pistas que Catarina nos deixará.

* Ricardo Zimmer – (
http://www.megaculturalfilms.com/zimmer.html)
Diretor de Cinema, roteirista e escritor .

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maio 04, 2008

Um tratado onírico: o porão do IO



Fotos de Jones, 2008,criação livre , com material pessoal e material de divulgação do Zete Etes



O Grupo IO* (www.grupo-io.com ), de porto Alegre, fez um convite no mínimo instigante a todos que fosse ver a exposição e instalação, vídeos e acessórios cênicos, do espetáculo ZEDE ETES - O Estranho Equívoco de A. Hilzendeger Feltes. As obras em si só, já são peças únicas de um imaginário, de um elenco onírico.
O local para este tuor onírico, foi o porão do Paço Municipal de Porto Alegre ; Um porão realmente. Além de impregnado de uma memória que salta a todos os sentidos, estava dispostos em todos os recantos as obras de ZEDE ETES.
Todas elas, em sua significância e múltiplas interpretação nos recebiam com olhos, cor, luz e textura. Nada por elas passava em vão. Pois quando descemos ao porão, nosso imaginário, ou se vai ou se esvai. Os conceitos de vida e morte, acompanhavam sutilmente por todos os espaços. Da natureza raptada; a alma espetada e vitrificada. Tudo ali presente. Um culto a vida e a finitude; E também a eternidade que faz parte em muitas vezes de nosso imaginário.
Um convite a um passeio e aos sonhos. Neste sonho estavam expostos todos, ou boa parte de nossos eus. Pois quando sonhamos, nossos eus saem para fazer visitas desejadas e indesejadas, assim como receber visitas de nossos outros eus.
A proposta de trazer os elementos cênicos do espetáculo, e criar também um espetáculo é muito curioso , e um tanto desassossegador por tudo que habita em nosso universo imaginário e onírico. E principalmente quando deflagrado nesta situação de ver e sentir elementos que instigam, modulam e facilitam nossas sensações conscientes e inconscientes.
Os materiais cênicos, apresentados, já tiveram uma história e se juntam, para promover outra história que na verdade é história de cada um. Esta história inevitavelmente nos olha. Na verdade ela nos olha de maneira tão profunda que estar nu diante dela é pouco. Este fenômeno curioso, que algumas obras de arte promovem, em meu entender, se da pelo material que algumas obras são confeccionados, e o quanto de investimento dos conteúdos do criador esta depositado. Somado a isto, a percepção e abertura de quem comunga com aquele instante. Nós, os observadores; observados.
O Grupo IO, utilizou-se bastante de material orgânico, já sem vida, mas que instiga e denuncia a fragilidade desta mesma vida. Alguns materiais, não orgânico, que vieram das profundezas ou se fundiram para dar vida, como é caso do vidro e ferro, assim como outros materiais industrializados, que também tiveram uma origem antes de ser algo, mas todos estes materiais comungam da mesma essência; A existência. Pois tudo, na obra, esta vinculado com a existência humana e sua relação orgânica e psíquica com tudo que faz parte deste cenário que é a vida. As luzes, as formas, as cores, o som, e o cheiro compunha uma atmosfera digna de sonhos compartimentados, mas inter ligados , e as vezes sem nexo, como alguns sonhos são. Nosso inconsciente, não tem regras e normas, padrões ou esquemas , ele é por si. Podem ser imagens surreais, mas que torna-se significante a luz da compreensões ou construções destas. Há situações que não há nenhuma compreensão, ela é por si só a existência. Há sonhos que são somente sonhos, fragmentos que um dia talvez promoverão ou não significados; Alguns sonhos, são apenas rabiscos ou notas soltas que apenas são. Mas há sonhos que são verdades feitas dos mesmos fragmentos, notas e rabiscos.
Nossa angústia, em algumas situações é desejar compreender e entender, isto conforta, dignifica a existência. Mas atende apenas nossa desejo de estar seguro pela compreensão como nos desse um sentido de eternidade. Saber ou entender, pode apenas ser uma a compulsão a controlar para não findar. A arte, como do IO, desconstroem, desestabiliza; Demarca nossa insignificância e significância nestas cenas do existir. Assim como os sonhos , por si só nas maioria das vezes desconforta.
O tuor pelo porão do IO, é um doce desassossego. Em alguns momentos fiquei absorto pelas obras e os cenários; Meus eus inquietaram-se , e eu estava em muitos de meus tantos sonhos. O que denunciava que eu estava no porão, eram pequenas janelas, que davam para a rua movimentada, que pareciam telas dispostas lado a lado que projetavam pessoas com seus guardas chuvas, caminhando lá fora, ( chovia torrencialmente nesta sexta feira, 02 de maio de 2008, em Porto Alegre). Por momentos achei que o IO havia também colocado aquelas janelas. Aquelas janelas, me davam uma clareza a mais da grandiosidade da poesia visual tridimensional do IO. Absurdamente era ver aquelas pessoas caminhando na mesma cena do Homem e Natureza Morrendo Juntos. Elas não me viam. Eu, via elas e as cenas e eu. Um voyer de mim mesmo.
Para sentir não poderia ficar apenas parado, o porão do IO , convidava a embrenhar-se nas salas, alguns recantos mais pareceriam tumbas. Deveria agachar-se, acostumar-se , temer e adaptar-se como o existir.
O grupo IO, existe, sua existência por si só já intervém na cena da própria vida, instiga material para muitos e muitos sonhos. O que vem com eles é uma arte, é uma poesia, uma inquietude cênica, uma denuncia para que os porões com todos seus eus sejam visitados e revisitados. Nos porões há talvez algumas respostas ou quem sabe apenas resurgência de dúvidas, como arte deve ser: apenas ser .

* Grupo IO – Laura Catanni e Munir Klamt
Site do espetáculo Zede Etes: http://www.grupo-io.com/
Blog: http://grupo-io.blogspot.com/Comunidade no orkut: www.orkut.com/Community.aspx?cmm=6466736Myspace: myspace.com/iogroup

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março 11, 2008

Memórias que não Bailaram

Foto Elenco Original Bailei na Curva, 1983 ( Fonte http://www.dispositovocenico.blogspot.com/ )

Depois que o tempo passa, como agora, podem ficar registros mentais que também se vão, de tudo que vivemos de maneira mais ou menos intensa. E externo a nós, podem também ficar uma outra memória como os registros gráficos ( escritas, fotografias etc... ). e como diz a poesia, " de tudo fica um pouco... " O tempo é implacável sim, mas para quem não tem memória. Há dor maior que desejar lembrar quem somos e não conseguir ?
Com a memória eternizamos conteúdos e vivências; que de quando em quando podemos fazer ressurgir, reviver e porque não viver pelo menos em nosso imaginário, assim como partilhar com os outro estas experiências que habitam apenas em nossos recantos perdidos. Este compartilhar a memória, é o que Júlio Conte * comunga conosco em seu diário (http://www.dispositovocenico.blogspot.com/ ). Dispositivo Cênico. Um nome que não poderia ser mais adequado para instigar a resurgência da memória. E também a publicação e informação desta memória. O cênico, de todos os fatos políticos e humanos daqueles iniciados anos 80. Nestes registros, Júlio Conte, é norteado ou justificado com a concepção da cult " Bailei na Curva". Que se firmou como ícone de nosso teatro, como expressão artística , estética e questionamentos humanos e políticos em todos os sentidos. O diário, que não bailou, ( uma agenda que o Júlio usava para registros de acontecimentos , pessoais, acadêmicos e profissional da arte) nos remete não apenas ao nascimentos do espetáculo, mas sim a tudo que norteava a vida, também privada de Júlio, assim, como o momento privado e público de nosso Brasil.
Esta memória não é apenas de Júlio Conte. É a nossa memória. É a memória de pessoas que viveram naquele tempo, e também em outro espaço cênico. Júlio, através de seus registros , nos faz sentir e reviver momentos marcantes de uma época sofrida, pobre , emburrecida, engessada estupidamente ainda pela censura federal. Mas também se percebe tudo que fervilhava nas mentes mais abertas e sensíveis da época. Um cheiro sutil e escancarado de transgressão e micro revoluções de expressões e percepções da vida e do existir em um contexto que exigia intervenções democráticas.
As anotações de Júlio, tem uma poesia , uma marcação, um enquadramento, tem pinceladas ,cor, luz, escuridão, um ritmo, uma denuncia, e acima de tudo, o registro de que: se pode roubar, usurpar, abusar tirar quase tudo de um homem, mas sua memória lhe pertence, e basta que repasse ao outro para dar continuidade sentido na existência . Somos memória, Somos registros absolutos de invenções nossas e dos outros. E a arte por sua vez, cumpre um papel de extrema importância que é eternizar as manifestações, desejos , imaginário, intimidade, dores e prazeres; ou talvez apenas as verdades de um povo.
Fico, imensamente feliz por ser contemporâneo de Júlio, por ter acesso a sua sensibilidade, inquietudes , criações, pela pessoa grandiosa e generosa; pelo artista e principalmente pelo profundo conhecimento da alma humana. Estas memórias de Júlio não poderiam mesmo bailar. Ganhamos todos com este dispositivo cenico. Júlio se mostra como um facilitador para sentir a memória, pois memória sem sentir é como casa sem portas, anjo com uma asa só ou internet sem conexão.

*Júlio Conte é psicanalista, diretor de teatro, ator, escritor e dramaturgo. Autor de Bailei na Curva, Se Meu Ponto G Falasse, O Rei da Escória e outros.


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