Um tratado onírico: o porão do IO
Fotos de Jones, 2008,criação livre , com material pessoal e material de divulgação do Zete Etes
O Grupo IO* (www.grupo-io.com ), de porto Alegre, fez um convite no mínimo instigante a todos que fosse ver a exposição e instalação, vídeos e acessórios cênicos, do espetáculo ZEDE ETES - O Estranho Equívoco de A. Hilzendeger Feltes. As obras em si só, já são peças únicas de um imaginário, de um elenco onírico.
O local para este tuor onírico, foi o porão do Paço Municipal de Porto Alegre ; Um porão realmente. Além de impregnado de uma memória que salta a todos os sentidos, estava dispostos em todos os recantos as obras de ZEDE ETES.
Todas elas, em sua significância e múltiplas interpretação nos recebiam com olhos, cor, luz e textura. Nada por elas passava em vão. Pois quando descemos ao porão, nosso imaginário, ou se vai ou se esvai. Os conceitos de vida e morte, acompanhavam sutilmente por todos os espaços. Da natureza raptada; a alma espetada e vitrificada. Tudo ali presente. Um culto a vida e a finitude; E também a eternidade que faz parte em muitas vezes de nosso imaginário.
Um convite a um passeio e aos sonhos. Neste sonho estavam expostos todos, ou boa parte de nossos eus. Pois quando sonhamos, nossos eus saem para fazer visitas desejadas e indesejadas, assim como receber visitas de nossos outros eus.
A proposta de trazer os elementos cênicos do espetáculo, e criar também um espetáculo é muito curioso , e um tanto desassossegador por tudo que habita em nosso universo imaginário e onírico. E principalmente quando deflagrado nesta situação de ver e sentir elementos que instigam, modulam e facilitam nossas sensações conscientes e inconscientes.
Os materiais cênicos, apresentados, já tiveram uma história e se juntam, para promover outra história que na verdade é história de cada um. Esta história inevitavelmente nos olha. Na verdade ela nos olha de maneira tão profunda que estar nu diante dela é pouco. Este fenômeno curioso, que algumas obras de arte promovem, em meu entender, se da pelo material que algumas obras são confeccionados, e o quanto de investimento dos conteúdos do criador esta depositado. Somado a isto, a percepção e abertura de quem comunga com aquele instante. Nós, os observadores; observados.
O Grupo IO, utilizou-se bastante de material orgânico, já sem vida, mas que instiga e denuncia a fragilidade desta mesma vida. Alguns materiais, não orgânico, que vieram das profundezas ou se fundiram para dar vida, como é caso do vidro e ferro, assim como outros materiais industrializados, que também tiveram uma origem antes de ser algo, mas todos estes materiais comungam da mesma essência; A existência. Pois tudo, na obra, esta vinculado com a existência humana e sua relação orgânica e psíquica com tudo que faz parte deste cenário que é a vida. As luzes, as formas, as cores, o som, e o cheiro compunha uma atmosfera digna de sonhos compartimentados, mas inter ligados , e as vezes sem nexo, como alguns sonhos são. Nosso inconsciente, não tem regras e normas, padrões ou esquemas , ele é por si. Podem ser imagens surreais, mas que torna-se significante a luz da compreensões ou construções destas. Há situações que não há nenhuma compreensão, ela é por si só a existência. Há sonhos que são somente sonhos, fragmentos que um dia talvez promoverão ou não significados; Alguns sonhos, são apenas rabiscos ou notas soltas que apenas são. Mas há sonhos que são verdades feitas dos mesmos fragmentos, notas e rabiscos.
Nossa angústia, em algumas situações é desejar compreender e entender, isto conforta, dignifica a existência. Mas atende apenas nossa desejo de estar seguro pela compreensão como nos desse um sentido de eternidade. Saber ou entender, pode apenas ser uma a compulsão a controlar para não findar. A arte, como do IO, desconstroem, desestabiliza; Demarca nossa insignificância e significância nestas cenas do existir. Assim como os sonhos , por si só nas maioria das vezes desconforta.
O tuor pelo porão do IO, é um doce desassossego. Em alguns momentos fiquei absorto pelas obras e os cenários; Meus eus inquietaram-se , e eu estava em muitos de meus tantos sonhos. O que denunciava que eu estava no porão, eram pequenas janelas, que davam para a rua movimentada, que pareciam telas dispostas lado a lado que projetavam pessoas com seus guardas chuvas, caminhando lá fora, ( chovia torrencialmente nesta sexta feira, 02 de maio de 2008, em Porto Alegre). Por momentos achei que o IO havia também colocado aquelas janelas. Aquelas janelas, me davam uma clareza a mais da grandiosidade da poesia visual tridimensional do IO. Absurdamente era ver aquelas pessoas caminhando na mesma cena do Homem e Natureza Morrendo Juntos. Elas não me viam. Eu, via elas e as cenas e eu. Um voyer de mim mesmo.
Para sentir não poderia ficar apenas parado, o porão do IO , convidava a embrenhar-se nas salas, alguns recantos mais pareceriam tumbas. Deveria agachar-se, acostumar-se , temer e adaptar-se como o existir.
O grupo IO, existe, sua existência por si só já intervém na cena da própria vida, instiga material para muitos e muitos sonhos. O que vem com eles é uma arte, é uma poesia, uma inquietude cênica, uma denuncia para que os porões com todos seus eus sejam visitados e revisitados. Nos porões há talvez algumas respostas ou quem sabe apenas resurgência de dúvidas, como arte deve ser: apenas ser .
* Grupo IO – Laura Catanni e Munir Klamt
Site do espetáculo Zede Etes: http://www.grupo-io.com/
Blog: http://grupo-io.blogspot.com/Comunidade no orkut: www.orkut.com/Community.aspx?cmm=6466736Myspace: myspace.com/iogroup
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