o que vejo e sinto

maio 11, 2008

Catarina, a esfinge de Ricardo Zimmer

Fonte http://www.megaculturalfilms.com/producoes.html

Desde do lançamento do Livro do Cineasta e também escritor *Ricardo Zimmer ( http://www.megaculturalfilms.com/zimmer.html) que foi em 2001, há uma ansiosa espera, pelo filme baseado na Obra : “ Catarina – o último crepúsculo “, que o próprio também é roteirista e diretor, Que já esta em fase de produção. (http://www.megaculturalfilms.com/producoes.html) ; O livro inevitavelmente é um filme. Há que se dizer que os escritos de Ricardo Zimmer, são cinematográficos sempre. Há cenas, cortes, planos , que com seu talento facilitam e estimulam grandemente nosso imaginário. Conheço a produção textual de Zimmer, e percebo em todas, esta maestria. Desde a criação para o teatro quanto ao cinema. Um sensibilidade impar. Uma capacidade de raptar cenas improváveis e torná-las refém para sempre na tela grande e depois em nossa memória. Isto é raro, e poucos cineastas contemporâneos conseguem. No livro, cenas e personagens quase saltam das páginas em um desejo transloucados por existência própria; Ao filme, espera-se que as cenas e personagens nos raptem para dentro delas. De Zimmer, mais o elenco, que esta estupendo, nos resta o deleite de ver o rosto de Catarina e todas as cenas já criadas além do livro. Sabemos que livro é livro, cinema é cinema. Mas o fato de termos o mesmo talento para ambas, deixa uma expectativa maior ainda. Com o livro Zimmer nos sugere, agora com seu filme ele nos conduz. Sendo assim, esperar por Catarina é instigante pois a obra em si é de um conteúdo profundo, pois fala da vida, conflitos e desejo de findar assim como a missão de Catarina como facilitadora da finitude.
Talvez isto, seja mais inquietante em Catarina, ela facilita que o outro deixe de existir. Não há culpa; nem para o facilitado e nem para o facilitador. É como um pacto silencioso para aplacar a dor. É como um ciclo natural, um arranjo de desejos de todo ser humano, que podem ficar submersos a vida toda.
Há verdades na atitude de Catarina. Pois sempre somos facilitadores para um morrer ou existir em todas as nossas relações. Recebemos pedidos para facilitar, interromper intervir em cenas, em roteiros em falas, isto é própria existência com sua simplicidade estrangulada por nós depois de civilizados.
Catarina, fala ao mesmo tempo de uma melancolia, de dores e perdas que gerações e gerações trazem, já pelo própria historia desta família germânica que vem para o sul do Brasil, e deixa lá , no velho mundo parte suas. Estas partes nunca viveram aqui, pois a memória ficou aprisionada lá. Gerações que vieram posteriormente como a própria Catarina, incorporaram este banzo-germânico. Como forma de reintegrar-se, voltar as origens.
O desejo de morrer vem quando as almas humanas de tão sofridas se auto profanam; mas para acontecer e talvez para haver menos culpa, Catarina vem e facilita o processo de inexistir.
Na época em que Zimmer, iniciava o roteiro ele me solicitou que fizesse um perfil, um estudo psicológico de Catarina. Investimos horas e horas de entrevistas e leituras para chegar ao estudo do psiquismo de Catarina; houve conclusões clinicas , hipóteses , diagnósticos e prognósticos, mas ficamos sem decifrar alguns enigmas de Catarina. Catarina, deixava-se visitar em seu universo, mas haviam segredos, confessos e não confessos que fizeram dela um anjo facilitador, ou um monstro também facilitador. Isto sem dúvida, é a genialidade de Zimmer que deixou em aberto quem é Catarina. Esta forma de narrar e construir a personagem e seu universo interno, é de um riqueza impagável que só a grande tela vai também nos facilitar, para morrer de amor , compaixão ou desprezo por Catarina.
O que Catarina, propõem , se que é propõem; é uma transgressão ao direito de continuar ou não. Nela havia por momentos a identificação com a dor do outro, assim também como a onipotência, um complexo de deus com poder de cessar a vida do outro.
Esta relação com direito de intervir na vida e na morte, é algo que desassossega qualquer sociedade, e instiga reflexões profundas sobre estes direito. Pois desfila nestas situações questões éticas, morais e religiosas. Pois Catarina, transgride de maneira moral, ética e religiosa; Desconsiderando esta trindade que sustenta a continuidade da vida e reprime impulsos menos racionais. Que de certa forma, tem sua serventia em sociedade ditas humanas, digamos que seja um regulador. Há sim, intervenções institucionais que fazem a mesma coisa que Catarina, mas não são passiveis de julgamento ou questionamentos.
Catarina, é individual, é uma pessoa que por momentos facilita a finitude. Assim como dentro de nós habitam anjos, também habitam Catarinas. O filme de Zimmer, vem para talvez inquietar, ou quem sabe acalantar almas em culpa, por vezes de ter deixado de existir ou ter facilitado a própria inexistência . Há que também se auto decifrar usando as pistas que Catarina nos deixará.

* Ricardo Zimmer – (
http://www.megaculturalfilms.com/zimmer.html)
Diretor de Cinema, roteirista e escritor .

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