novembro 23, 2010
junho 14, 2010
maio 04, 2009
Sombras raptadas



Formas sombriáticas ( não sei existe este termo ); Mas este é termo que elejo para descrever as fotos de Adriana Donato , em exposição de 17 de abril, de segunda a sexta das 11h às 19h e aos sábados das 11h às 15h, até o dia 30 de maio. La Photo (Travessa da Paz, 44 – Fone (51) 3221-6730), Porto Alegre-RS, com a Curadoria de Dione Vieira Veiga. De acordo com com própria artista este trabalho “é conseqüência de um estudo de dois anos sobre a influência das sombras na arte. Após um primeiro ensaio, que resultou na exposição Sombras sobre o corpo, surgiu a idéia de estender esta pesquisa ao meio urbano, partindo do Mito da Caverna, de Platão, passando pelo mito do Desenho de Sombra, até os estudos de Leonardo Da Vinci e o inicio da fotografia. O Mito da Caverna, narrado por Platão no livro VII de A Republica...” http://revisadoseoutros.blogspot.com/2009/04/as-sombras-do-mundo.html;
Como toda a sombra, o quase todas, são efêmeras, as sombras de Adriana se impõem de maneira quase que eterna. Na verdade a Adriana eterniza o efêmero com suas fotos; Ao olhar e sentir suas imagens se percebe uma convivência natural entre o que existe e o que passa existir com olhar. A imagem é a sombra em si. Um belo exercício para ver o que não vemos no cotidiano. Para olhares apressados, podem parecer apenas sombras intrometidas que surgiram em momentos inoportunos.
Mas as sombras, que existem em todos os recantos, que haja luz, também falam, expressam , denunciam e instigam o olhar para o claro e escuro, o que na verdade é feito o nosso imaginário. Somos também sombras de vivências e expectativas; Penso que nossas dores, e confortos , a beleza e feiúra da cidade e do existir é quando se alteram as sombras. Depende como estamos, de nosso ponto de vista , de nosso momento emocional ; as sombras também são belas, e belas parceiras para se estar junto. As sombras também são poesias visuais, basta que se traduza; O que Adriana fez com sensibilidade impar.
Penso, até em uma mitologia possível de devaneios e associação livre que a sombra poderia ser uma deusa antagônica a deusa Luz. A deusa Sombra esta sempre onde a Luz esta, ( vice e versa) se amam e se odeiam. Elas não sabem, mas na verdade são Deusas Siamesas, que não vivem independentes. Onde estiver à sombra deve haver luz, assim sendo, elas habitam todos os recantos do universo, mas apenas juntas.
Adriana raptou as sombras da cidade; a cidade sempre terá sombras; Mas depois de vê-las e admira-las não tem como não sentir-se um pouco cúmplice deste rapto.
Marcadores: arte, deusas, escuridão, existir, porto alegre, sensibilidade, siamesas, Sombras, vera da luz, vivencias
agosto 03, 2008
Medos e Vida




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maio 11, 2008
Catarina, a esfinge de Ricardo Zimmer
Desde do lançamento do Livro do Cineasta e também escritor *Ricardo Zimmer ( http://www.megaculturalfilms.com/zimmer.html) que foi em 2001, há uma ansiosa espera, pelo filme baseado na Obra : “ Catarina – o último crepúsculo “, que o próprio também é roteirista e diretor, Que já esta em fase de produção. (http://www.megaculturalfilms.com/producoes.html) ; O livro inevitavelmente é um filme. Há que se dizer que os escritos de Ricardo Zimmer, são cinematográficos sempre. Há cenas, cortes, planos , que com seu talento facilitam e estimulam grandemente nosso imaginário. Conheço a produção textual de Zimmer, e percebo em todas, esta maestria. Desde a criação para o teatro quanto ao cinema. Um sensibilidade impar. Uma capacidade de raptar cenas improváveis e torná-las refém para sempre na tela grande e depois em nossa memória. Isto é raro, e poucos cineastas contemporâneos conseguem. No livro, cenas e personagens quase saltam das páginas em um desejo transloucados por existência própria; Ao filme, espera-se que as cenas e personagens nos raptem para dentro delas. De Zimmer, mais o elenco, que esta estupendo, nos resta o deleite de ver o rosto de Catarina e todas as cenas já criadas além do livro. Sabemos que livro é livro, cinema é cinema. Mas o fato de termos o mesmo talento para ambas, deixa uma expectativa maior ainda. Com o livro Zimmer nos sugere, agora com seu filme ele nos conduz. Sendo assim, esperar por Catarina é instigante pois a obra em si é de um conteúdo profundo, pois fala da vida, conflitos e desejo de findar assim como a missão de Catarina como facilitadora da finitude.
Talvez isto, seja mais inquietante em Catarina, ela facilita que o outro deixe de existir. Não há culpa; nem para o facilitado e nem para o facilitador. É como um pacto silencioso para aplacar a dor. É como um ciclo natural, um arranjo de desejos de todo ser humano, que podem ficar submersos a vida toda.
Há verdades na atitude de Catarina. Pois sempre somos facilitadores para um morrer ou existir em todas as nossas relações. Recebemos pedidos para facilitar, interromper intervir em cenas, em roteiros em falas, isto é própria existência com sua simplicidade estrangulada por nós depois de civilizados.
Catarina, fala ao mesmo tempo de uma melancolia, de dores e perdas que gerações e gerações trazem, já pelo própria historia desta família germânica que vem para o sul do Brasil, e deixa lá , no velho mundo parte suas. Estas partes nunca viveram aqui, pois a memória ficou aprisionada lá. Gerações que vieram posteriormente como a própria Catarina, incorporaram este banzo-germânico. Como forma de reintegrar-se, voltar as origens.
O desejo de morrer vem quando as almas humanas de tão sofridas se auto profanam; mas para acontecer e talvez para haver menos culpa, Catarina vem e facilita o processo de inexistir.
Na época em que Zimmer, iniciava o roteiro ele me solicitou que fizesse um perfil, um estudo psicológico de Catarina. Investimos horas e horas de entrevistas e leituras para chegar ao estudo do psiquismo de Catarina; houve conclusões clinicas , hipóteses , diagnósticos e prognósticos, mas ficamos sem decifrar alguns enigmas de Catarina. Catarina, deixava-se visitar em seu universo, mas haviam segredos, confessos e não confessos que fizeram dela um anjo facilitador, ou um monstro também facilitador. Isto sem dúvida, é a genialidade de Zimmer que deixou em aberto quem é Catarina. Esta forma de narrar e construir a personagem e seu universo interno, é de um riqueza impagável que só a grande tela vai também nos facilitar, para morrer de amor , compaixão ou desprezo por Catarina.
O que Catarina, propõem , se que é propõem; é uma transgressão ao direito de continuar ou não. Nela havia por momentos a identificação com a dor do outro, assim também como a onipotência, um complexo de deus com poder de cessar a vida do outro.
Esta relação com direito de intervir na vida e na morte, é algo que desassossega qualquer sociedade, e instiga reflexões profundas sobre estes direito. Pois desfila nestas situações questões éticas, morais e religiosas. Pois Catarina, transgride de maneira moral, ética e religiosa; Desconsiderando esta trindade que sustenta a continuidade da vida e reprime impulsos menos racionais. Que de certa forma, tem sua serventia em sociedade ditas humanas, digamos que seja um regulador. Há sim, intervenções institucionais que fazem a mesma coisa que Catarina, mas não são passiveis de julgamento ou questionamentos.
Catarina, é individual, é uma pessoa que por momentos facilita a finitude. Assim como dentro de nós habitam anjos, também habitam Catarinas. O filme de Zimmer, vem para talvez inquietar, ou quem sabe acalantar almas em culpa, por vezes de ter deixado de existir ou ter facilitado a própria inexistência . Há que também se auto decifrar usando as pistas que Catarina nos deixará.
* Ricardo Zimmer – (http://www.megaculturalfilms.com/zimmer.html)
Diretor de Cinema, roteirista e escritor .
Marcadores: Catarina, cinema, filme, finitude, morte, Ricardo Zimmer, talento, ultimo crespusculo, vida
maio 04, 2008
Um tratado onírico: o porão do IO
Fotos de Jones, 2008,criação livre , com material pessoal e material de divulgação do Zete Etes
O Grupo IO* (www.grupo-io.com ), de porto Alegre, fez um convite no mínimo instigante a todos que fosse ver a exposição e instalação, vídeos e acessórios cênicos, do espetáculo ZEDE ETES - O Estranho Equívoco de A. Hilzendeger Feltes. As obras em si só, já são peças únicas de um imaginário, de um elenco onírico.
O local para este tuor onírico, foi o porão do Paço Municipal de Porto Alegre ; Um porão realmente. Além de impregnado de uma memória que salta a todos os sentidos, estava dispostos em todos os recantos as obras de ZEDE ETES.
Todas elas, em sua significância e múltiplas interpretação nos recebiam com olhos, cor, luz e textura. Nada por elas passava em vão. Pois quando descemos ao porão, nosso imaginário, ou se vai ou se esvai. Os conceitos de vida e morte, acompanhavam sutilmente por todos os espaços. Da natureza raptada; a alma espetada e vitrificada. Tudo ali presente. Um culto a vida e a finitude; E também a eternidade que faz parte em muitas vezes de nosso imaginário.
Um convite a um passeio e aos sonhos. Neste sonho estavam expostos todos, ou boa parte de nossos eus. Pois quando sonhamos, nossos eus saem para fazer visitas desejadas e indesejadas, assim como receber visitas de nossos outros eus.
A proposta de trazer os elementos cênicos do espetáculo, e criar também um espetáculo é muito curioso , e um tanto desassossegador por tudo que habita em nosso universo imaginário e onírico. E principalmente quando deflagrado nesta situação de ver e sentir elementos que instigam, modulam e facilitam nossas sensações conscientes e inconscientes.
Os materiais cênicos, apresentados, já tiveram uma história e se juntam, para promover outra história que na verdade é história de cada um. Esta história inevitavelmente nos olha. Na verdade ela nos olha de maneira tão profunda que estar nu diante dela é pouco. Este fenômeno curioso, que algumas obras de arte promovem, em meu entender, se da pelo material que algumas obras são confeccionados, e o quanto de investimento dos conteúdos do criador esta depositado. Somado a isto, a percepção e abertura de quem comunga com aquele instante. Nós, os observadores; observados.
O Grupo IO, utilizou-se bastante de material orgânico, já sem vida, mas que instiga e denuncia a fragilidade desta mesma vida. Alguns materiais, não orgânico, que vieram das profundezas ou se fundiram para dar vida, como é caso do vidro e ferro, assim como outros materiais industrializados, que também tiveram uma origem antes de ser algo, mas todos estes materiais comungam da mesma essência; A existência. Pois tudo, na obra, esta vinculado com a existência humana e sua relação orgânica e psíquica com tudo que faz parte deste cenário que é a vida. As luzes, as formas, as cores, o som, e o cheiro compunha uma atmosfera digna de sonhos compartimentados, mas inter ligados , e as vezes sem nexo, como alguns sonhos são. Nosso inconsciente, não tem regras e normas, padrões ou esquemas , ele é por si. Podem ser imagens surreais, mas que torna-se significante a luz da compreensões ou construções destas. Há situações que não há nenhuma compreensão, ela é por si só a existência. Há sonhos que são somente sonhos, fragmentos que um dia talvez promoverão ou não significados; Alguns sonhos, são apenas rabiscos ou notas soltas que apenas são. Mas há sonhos que são verdades feitas dos mesmos fragmentos, notas e rabiscos.
Nossa angústia, em algumas situações é desejar compreender e entender, isto conforta, dignifica a existência. Mas atende apenas nossa desejo de estar seguro pela compreensão como nos desse um sentido de eternidade. Saber ou entender, pode apenas ser uma a compulsão a controlar para não findar. A arte, como do IO, desconstroem, desestabiliza; Demarca nossa insignificância e significância nestas cenas do existir. Assim como os sonhos , por si só nas maioria das vezes desconforta.
O tuor pelo porão do IO, é um doce desassossego. Em alguns momentos fiquei absorto pelas obras e os cenários; Meus eus inquietaram-se , e eu estava em muitos de meus tantos sonhos. O que denunciava que eu estava no porão, eram pequenas janelas, que davam para a rua movimentada, que pareciam telas dispostas lado a lado que projetavam pessoas com seus guardas chuvas, caminhando lá fora, ( chovia torrencialmente nesta sexta feira, 02 de maio de 2008, em Porto Alegre). Por momentos achei que o IO havia também colocado aquelas janelas. Aquelas janelas, me davam uma clareza a mais da grandiosidade da poesia visual tridimensional do IO. Absurdamente era ver aquelas pessoas caminhando na mesma cena do Homem e Natureza Morrendo Juntos. Elas não me viam. Eu, via elas e as cenas e eu. Um voyer de mim mesmo.
Para sentir não poderia ficar apenas parado, o porão do IO , convidava a embrenhar-se nas salas, alguns recantos mais pareceriam tumbas. Deveria agachar-se, acostumar-se , temer e adaptar-se como o existir.
O grupo IO, existe, sua existência por si só já intervém na cena da própria vida, instiga material para muitos e muitos sonhos. O que vem com eles é uma arte, é uma poesia, uma inquietude cênica, uma denuncia para que os porões com todos seus eus sejam visitados e revisitados. Nos porões há talvez algumas respostas ou quem sabe apenas resurgência de dúvidas, como arte deve ser: apenas ser .
* Grupo IO – Laura Catanni e Munir Klamt
Site do espetáculo Zede Etes: http://www.grupo-io.com/
Blog: http://grupo-io.blogspot.com/Comunidade no orkut: www.orkut.com/Community.aspx?cmm=6466736Myspace: myspace.com/iogroup
Marcadores: arte, cenas, finitude, Grupo Io, imaginário, Laura Cattani, Munir Klamt, poesia, Porão, sonhos, Teatro, Zede Etes
março 11, 2008
Memórias que não Bailaram

*Júlio Conte é psicanalista, diretor de teatro, ator, escritor e dramaturgo. Autor de Bailei na Curva, Se Meu Ponto G Falasse, O Rei da Escória e outros.
Marcadores: bailei na curva, Julio Conte, memória, Teatro